terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Assinatura

Sozinho e perplexo
eu imaginando tu
mas não desnuda
desta vez declamando
um poema meu
enquanto tu achavas
que era do Pablo Neruda
me provando o quanto é fácil
ser enganada por um mera assinatura

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Pleito

urge com instensidade
a vontade de decidir
entorpe a ideia
de quem alguém represente
a vontade dessa gente
que de fartas falácias
sente-se tão carente

tato e um pouco de esperança
me passam dois algarismos
que eletrônicos se perdem
em registros biônicos
quando chegam às mãos
de quem os destinei

a pressa interessa
e urge de novo
a vontade de decidir
pra agora
pra ontem
pro povo

me importo com a física
com a variável
com a aceleração
me preocupa o movimento retrógrado
a inércia
a velocidade nula

anestesia!
para todo ódio que se espalha
e machuca com força de navalha
para este mesmo ódio
longe de ti
anistia!

sábado, 8 de novembro de 2014

Zumbi vive

Parceiro, nem precisa se preocupar
porque aqui não chegou ebola
mas não nos esqueçamos
que as dízimas são periódicas
desde o primeiro quilombola

Eu sei, parceiro
aceita que é proibido
é duro, mas é verdadeiro
lá do outro continente
não vem mais navio negreiro
e é uma lástima, parceiro
ver andar do teu lado
quem foi tua fonte de dinheiro

Isabel assinou um documento
disseram que viria um novo momento
progresso, lugar ao sol
menos sangrento
que chibatada
nao seria mais argumento

Mas surgiu o primeiro movimento
e o dito se foi com o vento
e o estouro foi da arma
de algum sargento

cuidado, parceiro
respeite os zumbis.

sábado, 18 de outubro de 2014

NÃO

não me olha
que eu não vou chegar
eu tenho vergonha

não espere por mim
porque eu só sei olhar
eu não tenho retórica

não da bola pra minha cara
de quem não tá ligando
eu não tenho celular

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Anarquia

gosto da sensação de anarquia
da bagunça organizada
do lábio borrado com batom

gosto do contraste urbano
do cinza do concreto
com o preto do pixo

gosto quando o acento não vai na silába tonica

amo o caos
meu despertador é um ronco de motor
gosto da rasura, do futurismo, da confusão

salve Dada
salve Jupiter
salve Frank
e as fitas demo do graforréia xilarmônica.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

A Horta

água mole em pedra dura
agrotóxico em rapadura
tanto bate até que fura
e maquia a verdura

como reis
rainhas e valetes
vales verdes
tanto valem

o 't' avisa
transgenia
suco de arroz
você não sabia

zelando a minha horta
sofro de amores
e choro ao vê-la morta
ela, a minha horta

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O CAPITAL

é tipo um pai que acha que educa
caduca
é tipo uma mãe que adora bater
"pra aprender"
o capital é como uma ditadura
tortura
é um grito!
conflito
e no fim,
capital nada mais é
que um pedaço de papel

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Haicais de alguém que não eu



Existe um eu dentro de ti
Que ousa sair de tal forma
Não necessariamente igual a mim

Existem vários eu
Finos, rabiscados, preto e brancos
Como você quiser

Existe uma poesia concreta saindo dos teus dedos
Um catarse abstrato
Saindo do teu cartaz

A tua câmera fotográfica me fascina
Teu filme analógico
Tua lente que oscila

Há um espelho dentro de ti
Que me reflete para um papel
Da forma que bens entender

E eu,
eu só não quero entender.

sábado, 23 de agosto de 2014

B-side sujo de algum Ferreira

garota, garota
na garoa
vê que tempo trovoa
e corre pra casa
recolher

dim dom
toque de recolher

ao norte
o brasil
sorte
o fuzil
pátria
teu pai
ao sul
teu cu.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

te vejo a toda hora







olhei pela sacada e te vi
andei pela estrada e passei tão perto - de ti
mas não quiseste me cumprimentar
andei ao sul, no sol, na sombra
em cada tropeço a via tão colada - em mim
te vejo marginalizada

assim, te vejo toda hora
mas nunca sei, de fato, qual é a hora

te ver a todo tempo é crueldade
te vendo toda hora
não há nem como sentir saudade

ah, infelizes aqueles que fizeram tua amizade
e tu, tão atraente
sensualiza qualquer idade.

maldosa!
desvairada!
te insulto como um alento
te desafio a todo momento

quando quiseres me conhecer
ligue-me, pois ficarei preparado
tomarei a última dose
despedirei-me dos amigos
fumarei o último cigarro

é que ninguém costuma ter sorte
quando vai lidar contigo,
morte.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

guerra em 6 versos

amor
olha que horror
nosso romance virou uma guerra
e ainda perguntas porque me queixo
é que eu sou aliado
e você é do eixo

quarta-feira, 9 de julho de 2014

libertiné

deixa pra depois o arder
em subsolo macabro
o acúmulo desse prazer
que por eu humano ser
não consigo me defender

e não há poesia mais bela
do que a cama quando se esfarela

azar
se no subsolo eu queimar
imoralité
indecência
promiscuité
concupiscência

e não há oração mais louvada
do que a que é feita pela coitada

azar
pensando bem
quem quiser brincar
põe o dedo aqui
que já vai fechar 
o abaixaqui

ave maria, 
rezai por nós despudores

terça-feira, 24 de junho de 2014

cafeína









por que o café como figura poética?
se de poesia só tem sua hermética
cadeia nitrogenada
que te mantém acordada
na fria madrugada
quando se podia estar sonhando
e o sonho é roubado pela falta de sono
cujo réu está ligado à moléculas de carbono

terça-feira, 3 de junho de 2014

tropical

Fui pro nordeste
convidado para uma festa
a festa tropical
idealizada por Caetano
cheia de velas
entrei pela fresta
então ele falou
larga de ser tão zé.
assim como Arnaldos
haviam Ritas para todos os lados
Rita aqui, Rita ali
conheci velhos paulistas
e novos baianos
as gurias flertavam Milton e Chico
enquanto eles Regina
que por hora contava uma piada
e foi aí que o Gilberto riu.
Alegria, alegria!

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Palmas para Porto.








Uma salva de palmas
aos pássaros
aos palhaços
aos porres
aos pic-nics
aos pedestres
aos parques
aos prédios
aos pobres
aos piás
às prendas
às praças
às pontes
à paz
e aos perigos

de Porto Alegre.

domingo, 27 de abril de 2014

Sofisma.







Rosto
Sem brilho porém belo
Cercado de bucolismo e melancolia
Se teu nome fosse Sofia
Sofisticaria a poesia, e só
Teu semblante sofista
É que deixa sem saída
Melhor argumento possível
Um convite à filosofia platônica
Retórica infalível.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Sexo com S.









Sexo sentimental, suave, sublime
Sério, no sonho
Sábio, santo, sacro, sóbrio

Sexo no sol, na selva, na sombra
Sem escrúpulos
Se e somente se, sensível
Saliente, sucessivo, subversivo

Sexo a sós, sozinho, solteiro
Consigo mesmo
Segunda, sexta, sábado
Sexo com S

Sobre sexo,
Só sei que nada sei.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Ela.








O que todo mundo sabe
É que a Arca é o Ela de Noé,
Que Minnie é o Ela de Mickey,
Que Maria é o Ela de José,
Que Julieta é o Ela de Romeu,
Que Yoko é o Ela de John,
Que Marília é o Ela de Dirceu.

O que ninguém sabe
É que tu é o Ela meu.

terça-feira, 18 de março de 2014

Trago y tango.










De tanto trago
Tomou um tango
y do tango más un trago.

Trago tanto
y tanto tango.

Mas de tanto tanto
Trago tango.

y tentando tragar
Se fora más un tango.

De ti
Outro tango
y aí outro trago
amargo.

Tangenciando
Trago y tango
Tomou un tapa.

Topou más un trago
Do trago
un tiro y un outono.

De tanto outono
Fizera a festa
Trago y tango.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Pseudo-diplomatas.








Somos Estados Unidos e Rússia.
Somos Coréias. Você do Norte, eu do Sul.
Somos Alemanhas divididas.

Eu e você, Portugal e Espanha
Você e eu, Inglaterra e Argentina.
Disputando as Malvinas

Você, Brasil
Eu, Rio Grande do Sul
Derramando sangue vermelho
Contrastando o céu azul.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A Guerra do Amor.


Parece que fracassou
O nosso amor
Cheio de tratados
Fronteiras demarcadas
Pólvora e granada

Nosso romance
Sempre deixado pra amanhã
Parecíamos vietnamitas no caos
Em pleno Vietnã

Esse amor
Muito frio
Como uma guerra
Acabou assim
Aos pedaços
Como o Muro de Berlim

Parece que não deu certo
O nosso amor lançador de bombas
Que assim como os americanos
Cruzou o oceano
E acabou nos bombardeando

Muito seletivo
Esse nosso amor
Meio que um Reich
Mata tudo que não agrada
E agrava mais dor

O nosso amor
Muito ditador
Como Mussolini em 39
Gritamos demais
E acabamos em pizza

Ah, esse nosso amor
Foi-se num estalo
Parecia Stalin
Muito antiético
Meio Soviético.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Seios








Os sei
São dois
Belos
Esbeltos
São seus

Os sei

Quer dizer...
Os siliconados
Acho que não
Não sei

Os seios

Cheios de anseios
Cercados de pudores
Possuídos de si mesmos
Os seios

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Tudo nos divide.








Tudo se divide / Tudo se separa

Um ímã repartido

Estradas e entradas
Becos sem saída
Protestos pacíficos

Tudo nos divide / Tudo se separa


Linhas imaginárias

Fronteiras estatais
Gritos de liberdade
Pedidos de  paz

Tudo nos divide / Tudo nos separa


Tomadas burocráticas

Pedidos de emprego
Distâncias volumosas
A falta de sossego. 

"Que a chuva caia uma uma luva, um dilúvio, um delírio. Que a chuva traga alívio imediato."